Saudações libertárias, mais um novo livreto saindo do forno!
“A Construção do Presente e o Anarquismo Construtivo”
Este texto a seguir, extraído do livro “Anarquismo é Movimento“, de Tomás Ibanez, coloca em questão a distinção, propagada por Murray Bookchin e ainda muito influente nos meios anarquistas atuais, entre anarquismo social e anarquismo como estilo de vida. Tomas Ibañez explora os limites dessa distinção no que se refere ao próprio sentido histórico do anarquismo, que sempre operou na destituição das dualidades próprias à política da representação. De fato, chamar algo de ‘mero estilo de vida’ significa na maioria das vezes um qualitativo depreciativo, quase um xingamento, que procura situar por oposição aqueles assim adjetivados na esfera do não-sério; não-organizado ou não-comprometido. Ibañez, por outro lado, problematiza a própria noção de organização assim definida como uma idealização, mostrando que de fato não existe jamais um grupo, seja de afinidade, seja voltado à realização de uma atividade qualquer pontual, que esteja totalmente desorganizado, pois existem níveis de organização determinados por aquilo a que se deseja ou necessita. O desejo da organização ideal, única, totalizante é muitas vezes um fetiche oriundo de nossa educação institucional e estatal, que não nos permite ver a organização estabelecida pela prática concreta. Adicionalmente, a separação entre ‘social’ e ‘estilo de vida’ é filha da separação entre público e privado; político e pessoal; vida e gestão da vida, entre outras… separações estas que se estabelecem sempre já desqualificando um dos seus termos, até que a vida concreta mesma seja colocada na esfera do ‘nenhum valor em si’, pois o seu valor estaria sempre no âmbito abstrato das suas representações, seja política ou econômica, organizadas. Mas é justamente contra estas separações rígidas, no capitalismo; no Estado e na representação, que nós anarquistas nos insurgimos. É justamente a distinção entre o viver e o organizar a vida que nós recusamos. Sendo assim, Ibañez nos ajuda a ver que refundar essas distinções danosas no seio da luta libertária só pode nos levar à confusão ou à criação de microestados em nossos meios. A multiplicidade das práticas anarquistas e suas potências estão em não separar a luta da vida, que é talvez o que constitui sua maior força. Em máximo grau, nós anarquistas queremos uma sociedade na qual não estejam separados o modo de viver do próprio viver, e é por isso que em nossa prática não precisamos opor rigidamente o social ao ‘estilo de vida’. Muito por outro lado, desejamos uma política que vem, e que não se separa da vida, que é antes de tudo uma forma de viver.
Leia, copie e difunda como quiser o material, seja livre. Essa zine foi editada por la libertaria, um grupo dedicado ao apoio as lutas locais e globais e ao estudo, difusão e investigação da anarquia e do pensamento anarquista.
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